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Acontece

Uma praça, alguns jovens e um mundo paralelo

Trajando liberdade com roupas pretas, rasgadas e tênis, Alexandre, conhecido como 2001, é um adolescente de 15 anos e passa a maioria de seus finais de semana na Praça Guadalajara (a Praça da Normal). No local o garoto encontra jovens, que assim como ele, estão fugindo dos moldes e se rebelando contra os que o repreendem.

Espaço desprezado pela maioria da população, a Praça Guadalajara é a periferia da parte nobre da cidade de Vitória da Conquista. Para os que estão de fora é um local perigoso, para os jovens que costumam se reunir ali, é um ponto de fuga.

A praça é localizada em frente à Escola Normal, onde estudam Alexandre e alguns outros jovens que frequentam as reuniões, e é ponto de acesso ao centro e às universidades. Ainda assim é um espaço pouco resguardado e jovens, que assim como 2001, são menores de idade, encontram na região acesso fácil a bebidas alcoólicas e entorpecentes.

 

A dualidade da polícia

 

As reuniões na praça são sempre rodeadas pelo medo da represália de policiais. Para os jovens que ali se reúnem a polícia é dúbia, já que aparecem apenas para mostrar que possuem maior patente e geralmente o local não é vigiado. Há também a presença constante de pessoas vendendo e comprando drogas. “Os jovens têm medo da polícia e são amigos dos bandidos”, disse Wendel Samyr, de 21 anos.

Os jovens confessaram que a Praça da Normal realmente é um local perigoso, justamente pela presença de pessoas que não estão ali pelo mesmo motivo que eles. Os traficantes estão ali armados e existem pessoas mal intencionadas. Segundo Celso Lima Porto Neto, 20 anos, alguns Policiais Militares que o abordaram em um “baculejo”, disseram que a praça é um dos cantos mais sujos da cidade, justificando a desatenção dada ao local.

 

Um refúgio

 

Mesmo que tentem disfarçar, os jovens que conversamos confessaram estar ali por causa da companhia. A falta de atenção em casa faz com que aquele lugar seja cada vez mais uma fantasia real, onde podem encontrar a curto prazo um amparo. “Se eu não estivesse aqui, estaria em casa brigando com meu pai” (Alexandre Fernandes, 15 anos).

Nem todos os que se reúnem na praça compartilham o uso de drogas. Dentre os jovens que conversamos poucos estavam no local com esse intuito. Ter com quem conversar, dar risada ou fugir de uma realidade em que não são protagonistas são motivos que fazem os jovens irem para a Praça da Normal praticamente todo o final de semana.

Antes as reuniões eram por tribos (metal, rap, reggae), depois os grupos começaram a se unir e formar novos grupos com pensamentos mistos e uma característica em comum: a fuga. Enquanto estão ali desabafam, discutem ou só bebem. Sofrem com o estereótipo de que todos os que frequentam a praça são maus, mas poucos sabem que o local é apenas um refúgio.

 

Por Victória Lôbo
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