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Crônicas

O beijo

O sol começava a desaparecer no horizonte. Já fazia mais de 30 minutos desde que havia saído de casa para minha corrida habitual do fim da tarde. Nesse período do dia, a praça Rui Babosa costuma estar agitada, com um ir e vir intenso de pessoas. Por alguma razão, naquele momento, tudo estava diferente, mais quieto.

 

De longe, vejo um grupo de pessoas parados ao redor de algo que eu não conseguia identificar. Aproximo-me e começo a ouvir comentários, enquanto mais pessoas começam a chegar. De repente, ouço alguém dizer: “Foram três tiros”. Rapidamente, percebo a situação. Certamente, alguém foi assassinado.

 

Tento passar entre os curiosos para observar melhor o fato. A medida que chego mais perto, escuto cada vez mais forte um choro de desespero. Finalmente consigo ver. Na grama, agora coberta levemente por tons vermelhos, estão dois homens. Um deles, com o rosto totalmente ensanguentado, está inconsciente_ provavelmente morto. Dois dos tiros atingiram a cabeça.

 

O outro jovem, com grande desalento, agarra a vítima pela cabeça, abraçando-a inconsolavelmente. Seu desespero é tanto que o faz gritar: “Isso não é justo! Isso não é justo! Eu não posso te perder”. Concluo que eram um casal, talvez namorados.

 

Afasto-me e vejo que uma mulher ligar para a emergência. Decido perguntar-lhe se sabia por que aquilo havia acontecido. Vou até ela, cumprimento-a e lanço a pergunta. Então, vagamente ela me diz: “Os dois estavam se beijando”.

Por Afonso Ribas
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