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Crônicas

 

  Poderia ser mais uma tarde entediante como as muitas que tive naquelas férias, mas não foi. Lá estava eu, lá pelas 12h, tinha acabado de acordar e fazer meu ritual de levantar da cama e deitar no sofá para assistir TV.

 

  Minha farda - que as pessoas normais chamam de pijama -  e meu cabelo desarrumado faziam de mim o melhor retrato de uma pessoa sedentária. Evitava, inclusive, olhar próprio meu reflexo na televisão. Pensava sobre o sentido da vida, mas o que mais queria era que minha mente se esvaziasse. Porém meu pedido não foi atendido.

 

  Liguei a televisão em um canal de filmes qualquer e estava passando Espelho, espelho meu, filme que já havia assistido milhares de vezes. Ainda assim resolvi assistir novamente. De repente, uma frase absorvida pelas minhas orelhas, ecoou na minha mente: “Finalmente achei uma coisa pela qual eu devo lutar”, disse a protagonista.

 

  Essa frase fez com que todos os pensamentos que tentava fugir voltassem. Eu, desiludida e ansiosa, comecei a divagar e criar inúmeras teorias, a maioria dispensáveis. Cada tempo de minha vida eu lutei por algo, que na maioria das vezes se resumia à vontade de não levantar da cama.

 

  Acabei percebendo que eu sempre lutei contra e nunca a favor de algo, assim como a maioria das pessoas. Por exemplo: os pobres lutam contra os ricos e vice-versa; o capitalismo contra o socialismo e vice-versa; o Danilo Gentili contra o Jô Soares e vice-versa. E nisso, quantos vice-versa existem?

 

  Porém, também não acredito que o heroísmo deva nortear nossa vida. Me canso só de pensar em lutar por algo, pode parecer egoísta, mas quantos heróis precisarão existir para as pessoas perceberem que estão fazendo tudo errado?

 

  Nesse mesmo dia, descobri que tinha passado no vestibular. Os questionamentos foram ficando cada vez mais distantes, tinha anotado a frase em um dos meus cadernos e ao vê-la acabei os retomando. Na época eu tinha um objetivo, agora tenho outro. Mas ainda não sei se existe algo pelo qual eu deva lutar.

“Finalmente achei uma coisa pela qual eu devo lutar” (Branca de neve – Espelho, espelho meu)

Por: Victória Lôbo
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