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Crônicas

Não sabia

Quando decidi partir da minha cidade para tentar ser alguém, quando deixei minha família e minha casa, não sabia o tamanho da empreitada que tinha pela frente. Não  sabia que em algum momento teria que escolher levar o meu coração junto com  minhas malas. Não sabia das inúmeras noites em que dormiria desejando que no  quarto ao lado estivesse minha mãe. Não imaginava quantas lágrimas derramaria  sendo abraçada somente pela solidão. Não imaginei que cada vez que me sentisse  sozinha, colocaria uma trilha sonora bem “bad” que me faria chorar mais ainda

 

Eu sempre fui forte, mas tive que aprender a ser resiliente, a acordar todos os dias, consciente que teria que ir atrás para manter o pão e o teto sobre minha cabeça, afinal não tinha ninguém por mim nesse sentido. Não sabia que alguns que amei e a quem me doei, imaginando que quando olhasse para o lado estariam ali, me abandonariam, me desejando apenas boa sorte.  Poucas coisas doeram tanto. 

 

Hoje só consigo vê-los ao olhar para trás e, não sei se é bom, mas a imagem deles está ficando cada vez mais distante. Não sabia que quando adoecesse teria que ir ao hospital sozinha, resistindo ao impulso de ligar para os poucos que se importam, poupando lhes a preocupação. Não sabia que correr atrás de um sonho é mera especulação, porque, se fizer isso, você tropeça e cai, então você chora, desespera e desiste mil vezes na sua cabeça, aí você aprende que precisa diminuir a velocidade, precisa mais de perseverança do que pressa, mas de paciência do que força.  E então quando chega o outro dia, mesmo com os pés esfolados e o coração cheio de 

esparadrapos, você simplesmente caminha, e é esse caminhar lento, mas progressivo, que te permite perceber as flores que enfeitam a avenida pela qual passa todos os dias; que te faz levantar os olhos e ver a beleza da lua em todas as suas fases, e mesmo em meio a prédios e fiações, permanece tocante. 

 

Esse caminhar faz você sentir o vento passar por você bagunçando seus cabelos e te deixando o pensamento que você realmente não sabia de todas as coisas ruins que lhe aconteceriam, mas que elas foram necessárias para você perceber o quão forte você é, o quão longe você pode chegar e o quão livre você pode ser. Isso é para poucos, é para aqueles que não sabem, mas se arriscam a querer saber.

Por: Ísis Pereira
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